Rescaldo eleitoral

Podem encontrar aqui a analise por parte da Associação Americans United for Separation of Church and State sobre o resultado das eleições nos USA.

Entre vários pontos muito interessantes sobre qual continua a ser o risco real da direita religiosa na América, ficamos (com pena) a saber que alguns estados passaram emendas às constituições estatais para banir casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas que em contrapartida, a ideia ridícula de conferir a um zigoto o estatuto de “ser humano” foi chumbada em Colorado (e por uma larga margem).

Mas a minha parte favorita é o ponto de insanidade religiosa de James Dobson, o director do grupo de fanáticos histéricos, a Focus on the Family.

Numa tentativa de assustar os eleitores cristãos a votarem a favor de McCain, Dobson (agora com ideias que é um escritor de ficção científica) fez uma manifesto com o que seria o resultado de eleger Obama, e o que isso vai causar aos USA nos próximos 4 anos.

• O casamento entre pessoas do mesmo sexo será legal nos 50 estados da República
• Os escuteiros serão forçados a fechar
• Escolas públicas serão ordenadas a dar aulas sobre homossexualidade com uma perspectiva positiva
• Escolas religiosas serão obrigadas a fechar por ordem do governo
• As igrejas serão obrigadas a aceitar funcionários gays
• Não existirá mais a possibilidade de ter preces na escola
• Não existirá mais dificuldades para a interrupção voluntária da gravidez
• Pornografia aparecerá na televisão de uma forma não controlada
• Cristãos que queiram educar os seus filhos em casa não o poderão fazer
• O Irão irá lançar uma bomba nuclear sobre Israel
• Os impostos irão estar ainda mais altos
• A gasolina custará 14 dólares o litro.

Vamos a ver qual a percentagem de previsões que sai totalmente ao lado (assim à lá Pat Robertson). Eu acho que vai ser 100%. Você pode jogar este jogo em casa também.

Land of the free and the home of the brave.

Feliz aniversário América!

Uma América que eu adoro, mesmo com tudo o que tem de negativo, com toda a estupidez, ignorância, ignominia de um país que tem (mesmo) um pouco (ou muito) de tudo.

Eu conheço bem os Estados Unidos. Produto de ter vivido e de ter viajado muito dentro desse país. E vi um pouco de tudo, desde o ateísmo e sofisticação do northeast (Connecticut, New York, Boston) até ao southwest (San Francisco, Los Angeles, San Diego) passando pelo midwest south e o seu fanatismo religioso (Ahh, Texas. Que espectáculo).

Preocupo-mo o caminho que os US podem ter nos próximos 4 anos. Se por um lado, a coisa já não pode ficar pior, depois dos desastres provocados pela Administração Bush no pós-guerra do Iraque, na total desorganização dos Serviços de Inteligência, e na perda de liberdades dos próprios Americanos, por outro lado, muito facilmente se podem manter na mesma.

O Obama está a revelar-se um oportunista, e que parece estar a abdicar de algumas plataformas que o fizeram ganhar a nomeação do Partido Democrata, para um “centrismo” (neste caso entre Democratas e Republicanos) que se afigura como preocupante: e não há melhor exemplo que Barack ter anunciado que ia estender os programas “faith based” que o Bush iniciou.
Quanto ao McCain, aqueles compadrios com os evangélicos cristãos é arrepiante, mas ao menos mantém algumas das suas convicções mais “liberais”, como é o caso de ser a favor da investigação com as células estaminais embrionárias.

All and all, um país cheio de contrastes, uma nação cheia de contradições, mas uma terra apaixonante e inesquecível.

Que saudades...

Como evitar o inevitável?

Keith Olbermann coloca a pergunta de uma forma que pode ser transportada para Portugal (inclusive).

"Como é possível uma instituição religiosa deixar de lado a sua missão evangêlica ao mesmo tempo que está ao serviço do Governo?"



Resposta óbvia, "não, não é possível".

Claro que não é. Nenhuma organização religiosa vai suspender a sua "missão divina" por causa de estar a receber apoios do Estado: para os primeiros, a sua missão não é só um serviço ao Estado, como é um favor que estão a fazer a este último.

Abismos

A América fundada como uma nação "Judaico-Cristã"...



Estamos num bom sarilho, estamos.

Que as decisões difíceis sejam tomadas, isso todos temos de compreender, agora que sejam tomadas porque é deus que assim o quer, não é uma boa ideia.