May 31, 2013

"O meu ateísmo", por André Santos

É com grande agrado que publico um texto de André Santos, que é visitante habitual do NOVA, e muito me honra com o seu interesse de ver o seu ateísmo apresentado aqui.

O André é aluno de Ciências da Comunicação da UAlg, e está no segundo ano de Ciências da Comunicação. É ateísta desde que entrou no Ensino Secundário, após uma pesquisa extensiva nas férias antes da entrada na Universidade, onde passou a conhecer o deus da Bíblia.

Sem mais demoras...o "púlpito" é teu, André...

"O fundamento do meu ateísmo é um problema antimarxista, e isso aborrece-me

Há uma frase conhecida para os marxistas, capitalistas, interessados em política e outros, com a qual muito me tenho debatido e me tem retardado o sono nalgumas noites. A frase diz, e passo a citar: "Problema teórico para o marxismo: porque a realidade não segue a teoria? Um cérebro normal rejeitaria a teoria se ela não é compatível com a realidade, mas o cérebro marxista não é normal: se a realidade não confirma a teoria, pior para a realidade!". É um argumento forte. Não só desconstrói a ideia de uma racionalidade superior no marxismo como, de forma subentendida, deixa no ar a hipótese de os marxistas sofrerem daquilo que em psicologia se denomina por dissonância cognitiva. Sobre esta nuance não me alongarei, pois levanta questões às quais provavelmente não saberei responder, mas a essência da ideia anterior é que se a teoria não se coaduna com a prática, se não existe uma materialização dos ideais, então de que vale defender algo tão afincadamente e, além disso, fazer essa defesa como uma solução viável para os nossos problemas?

Isto faz um paralelo intrigante com o meu ateísmo. Ser ateu, como escrevi no "quem sou eu" que está disponível no repositorium, é mais acerca de perceber e não querer acreditar do que não compreender a liturgia que está escrita (posso, como já insinuaram, ser um amputado espiritual ad eternum). Que relevância tem o referido problema nisto? Explica a questão anterior. Porque o meu ateísmo é forte na mesma medida em que a Bíblia faz menção (e, para além disso, justifica) às piores características do ser humano e às ações horrendas que deus, a outra suposta "solução para os nossos problemas", executou e em nome dele, mandou executar. Então pior para a realidade. Pior para quem tem de viver com esse fardo. Pior para mim quando a razão do meu ateísmo atenta contra a estrutura político-social que eu acredito que pode conduzir à normalização do nível de vida da população ao invés do enorme fosso entre ricos e pobres que hoje conhecemos.

André Santos, nº 45796"